Uma vez que a adolescência é uma fase complicada, claro que não o é para toda a gente, deixo aqui um excerto que é parte integrante do primeiro capítulo do livro Adolescência e Psicopatologia de Daniel Marcelli e Alain Braconnier. Este é um livro muito interessante, que poderá ser muito útil a pais, professores e claro, psicólogos. Como não posso reproduzir o capítulo na sua totalidade neste espaço, deixo apenas algumas linhas. Em caso de interesse em ler o capítulo na íntegra, digo que este se encontra disponível online, sendo muito fácil de encontrar.
“OS MODELOS DE COMPREENSÃO DA ADOLESCÊNCIA
A adolescência é a idade da mudança, como indica a etimologia da palavra: adolescere signifi ca “crescer” em latim. Entre a infância e
a idade adulta, a adolescência é uma passagem. Como assinala Évelyne Kestemberg, costumase dizer erroneamente que o adolescente é ao mesmo tempo uma criança e um adulto; na realidade, ele não é mais uma criança e ainda não é um adulto. Esse duplo movimento, negação de sua infância, de um lado, busca de um status mais estável, de outro, constitui a própria essência da “crise”, do “processo psíquico” que todo adolescente atravessa.
Compreender esse período transitório, descrever as linhas de força em torno das quais essa transformação psíquica e corporal, pouco a pouco, se ordenará constitui uma tarefa árdua e perigosa. Em face das incessantes mudanças, das múltiplas rupturas, dos inúmeros paradoxos que movem todo o adolescente
(…)
Pode-se considerar que essas teorizações articulam-se em torno de quatro modelos principais: 1) o modelo fisiológico, com a crise pubertária, as alterações somáticas subseqüentes, a emergência da maturidade genital e as tensões que resultam disso;
2) o modelo sociológico e ambiental, que põe em relevo o papel essencial desempenhado pelo ambiente na evolução do adolescente: o lugar que cada cultura reserva à adolescência, os espaços que cada subgrupo social concede ao adolescente e, finalmente, as relações entre o adolescente e seus pais são elementos determinantes;
3) o modelo psicanalítico, que dá conta dos remanejamentos identifi catórios, das mudanças nas ligações com os objetos edipianos e da integração na personalidade da pulsão genital; 4) os modelos cognitivo e educativo, que abordam as modifi cações profundas da função cognitiva, o desenvolvimento notável da capacidade intelectual, quando não há entraves, com as aprendizagens sociais múltiplas que ela possibilita.
Essa ordem de apresentação não implica a primazia de um modelo sobre os demais, porém, do nosso ponto de vista, ainda que estritamente individual e intrapsíquico, o modelo psicanalítico é condicionado, em parte, pelos modelos fisiológico e sociológico, ao mesmo tempo em que revela com toda veemência que esses dois modelos estão muito longe de ser suficientes para dar conta do conjunto de fatos observados na adolescência”
Daniel Marcelli e Alain Braconnier
Livro: Adolescência e Psicopatologia
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