“…Longe de mim branquear os perigos da
raiva surda que muitos acarretam à flor da pele, apenas esperando pretexto para
se tornar cega. Mas considero-a parente próxima da depressão que os jornais
afirmam em vertiginosa subida no «Top Ten» das doenças modernas. Por também
profundamente triste, em muitos casos ela brota da sensação de que a vida
escapa ao nosso controlo e ainda por cima a culpa de tal frustração morre
solteira, a quem ou o quê apontar o dedo? Trata-se de uma fúria que esbraceja contra
desconhecidos, um choro virado ao contrário, uma nostalgia de abraço
transformada no desejo de esmurrar, um receio da solidão mascarado de asco aos
outros. Vivemos depressa e mal; empilhados mas sozinhos; tudo consumindo e no
entanto horrorosamente vazios. Tristeza e raiva são faces da mesma moeda,
quando a segunda mergulha em nós e não na cara de alguém transforma-se na
primeira.”
Júlio Machado Vaz
Livro: O Amor É
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