segunda-feira, 16 de julho de 2012

Neuropsicologia/neurologia: UM NOVO OLHAR SOBRE A EPILEPSIA


O artigo que se segue é um pequeno resumo de um trabalho de grupo sobre a epilepsia, desenvolvido na disciplina de neuropsicologia. Com o objetivo de informar a comunidade académica, posteriormente, foi proposto ao grupo que elaborasse um artigo para a revista da Universidade. Tomei a liberdade de partilhá-lo aqui, pois informar e desmistificar nunca é demais.

“As crises vêm e vão,
o estigma fica!”
Dr. Armando Morganho

Simplificar! Desmistificar! Eliminar o estigma! Sim, porque o conhecimento é o antídoto do medo! Pode manifestar-se em qualquer idade, raça e classe social! A EPILEPSIA é a disfunção do sistema nervoso central mais comum em todo o MUNDO afetando aproximadamente 50 milhões de pessoas! 85% são de países em desenvolvimento, sendo que 75% destes não recebem tratamento. Surgem 2.4 milhões de novos casos por ano e 50% começam na juventude. Cerca de 70% das pessoas com epilepsia poderiam levar vidas normais e ter uma aprendizagem normal e regular se fossem tratadas adequadamente. (WHO, 2011)  

É caracterizada por uma descarga elétrica neuronal anormal, com ou sem perda de consciência e com sintomas clínicos variados. O cérebro é constituído por milhões de neurónios que comunicam entre si através de impulsos elétricos. Quando esta comunicação sai de controlo, as células cerebrais disparam e os músculos contraem-se. Acontecem então as crises epilépticas! Estas podem ser generalizadas ou focais (parciais) e diferenciam-se de acordo com a área do cérebro que é afetado. Ao contrário do que geralmente se pensa, não se apresentam apenas através de crises convulsivas percetíveis, incluindo também, entre outras, as crises de ausência marcadas por um olhar fixo, vazio e sinais motores subtis. Um diagnóstico correto e atempado é de extrema importância, uma vez que afeta os tratamentos e a qualidade de vida do paciente. Um dos aspetos fundamentais é o testemunho do mesmo e de quem assistiu à crise. Nas últimas décadas, verificam-se grandes avanços tecnológicos que mostram ser instrumentos viáveis e aplicáveis na prática clínica (Falleti, 2006), permitindo, através de diversos contributos interdisciplinares, um tratamento e diagnóstico da epilepsia cada vez mais eficiente.

Num inquérito realizado na UMa verificou-se um conhecimento superficial sobre esta temática, por parte dos estudantes inquiridos. Segundo este a maioria das pessoas não saberia como agir perante uma crise epiléptica. O caráter místico da mesma, a falta de informação sobre a doença, crenças desajustadas, sem fundamentação científica, assumem-se como aspectos essenciais na construção do estigma. Este é o “companheiro diário” da EPILEPSIA! Na tentativa de se sentirem aceites, as pessoas com epilepsia tendem a ocultar o seu diagnóstico, a sua condição e a isolar-se socialmente, restringindo diversas actividades.

Várias são as acções e políticas desenvolvidas por todo o globo. Em Portugal a Associação Portuguesa de Amigos, familiares e Pessoas com Epilepsia (EPI) e a Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE) são as entidades de referência. A EPI destaca-se pela vertente social e investigação, tendo sede em Lisboa, Coimbra e Porto. Na Madeira não há qualquer núcleo de apoio social para os cerca de 1500 casos existentes.

Ajude-nos a informar! Fazer com que o mundo da epilepsia e o nosso sejam UM MESMO!

Referências Bibliográficas
WHO (2011). Mental health: Epilepsy.Retrieved fromhttp://www.who.int/mental_health/neurology/epilepsy/en/
Falleti M. (2006). Practice of efects associated with the repeated assessment of cognitive function using the CogState battery at 10-minute, one week and one month test-retest intervals. J. Clin. Exp. Neuropsychol., 28, 1095–1112.

Nota: Este texto foi escrito conforme o novo Acordo Ortográfico
Ana Andrade
Ângela Ferreira
Beatriz Ribeiro Diniz
Filipe Xavier
Hélder Rodrigues
Licínia Freitas
Petra Coelho
Sara Magalhães
Sónia Coelho
Alunos de Neuropsicologia


Para saber mais sobre a epilepsia, siga o link que se segue:

terça-feira, 10 de julho de 2012

Uma Sugestão de Livro


Depois de nos últimos tempos ter deixado aqui algumas frases e até um excerto para fazer cada um pensar, hoje Sugiro o livro Deixa-me que te Conte De Jorge Bucay.
Este é um livro de contos de um psicoterapeuta argentino, que cujas histórias tem a capacidade de nos fazer refletir. Através das questões e dúvidas de Damião, um jovem cliente/utente de Jorge Bucay, vemos expostas as dúvidas, os receios, os temores, as mágoas de qualquer um de nós. Como as respostas surgem em forma de contos, torna-se mais fácil receber, interiorizar e adotar a mensagem transmitida nos pensamentos e na vida de cada um de nós.
Sugiro a leitura deste livro a toda a gente, uma vez que as questões ou dúvidas de Damião, são as mesmas de muitos de nós. Quem nunca questionou o porquê de uma mentira? Quem nunca tentou perceber os seus próprios atos ou o de familiares ou amigos próximos?


Boa Leitura!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Para Pensar


Afinal o que leva alguém a mentir? Aqui fica um excerto do livro Deixa-me que te Conte, com o objetivo de ajudar a perceber a razão da mentira. Provavelmente nem toda a gente concorda com a visão e explicação de Jorge Bucay, mas a verdade é que faz pensar.

O facto de alguém poder estar a mentir quando dizia a verdade e a sua lógica contrapartida, isto é, a possibilidade de ser veraz dizendo falsidades, desestabilizou por completo algumas ideias com que eu andava na cabeça.
- Isso é terrível, Jorge - disse. - Isso significa que a verdade se transforma num conceito absolutamente subjectivo e, por conseguinte, relativo.
- Seja como for, no fim de contas, o que se desestabiliza é o conceito de mentir e não o conceito de verdade. A verdade poderia continuar a ser absoluta, ainda que admitíssemos que declarar como verdadeiras algumas falsidades não fosse mentir. No entanto, como a nossa ideia da verdade está intimamente relacionada com o nosso sistema de crenças, cairemos sempre na tua conclusão (com a qual concordo por esta e por outras razões): a verdade é relativa, subjectiva e, permite-me acrescentar mais uma coisa, mutável e parcial.
- Tens razão - admiti. - E nada muda o que te dizia antes. Irrita-me que me mintam. Dito de outra maneira, seja correcta ou não, irrita-me que me digam uma coisa que sei que não é verdade. Nem sequer a verdade relativa, subjectiva e parcial de quem a diz. Irrita-me que me mintam.
- E porque pensas que te mentem?
- Outra vez? - disse eu. - Outra vez?
- Quero perguntar-te porque pensas que TE mentem a ti.
- Como, porquê? É a mim que contam as mentiras em causa - respondi, irritado.
- Não te irrites. Eu penso que, quando alguém mente, mente! Isto é: não TE mente; não ME mente. Simplesmente, MENTE! Na melhor das hipóteses, mente a SI próprio.
- Não!
- Sim! Porque é que as pessoas mentem, Damião? Pensa bem. Para quê?
- Eu lá sei! Por mil razões...
- Diz-me uma. Por exemplo, na questão que fez com que chegasses de mau humor à consulta.
- A pessoa mentiu para esconder uma coisa que fez mal.
- E isso para quê?
- Para que a outra pessoa não a julgue.
- E porque é que não quer que o outro a julgue?
- Porque sabe que a outra pessoa a condenaria.
- E porque é que não quer que o outro a condene?
- Porque lhe importa a opinião da outra pessoa.
- E?
- E... não quer ter de pagar as favas.
- Ou seja, para não ter de se responsabilizar.
- Claro.
- Está bem. Digamos que esse é o motivo de noventa e nove por cento das mentiras.
- Suponho que seja.
- Está bem. E como é que o mentiroso sabe que deveria responsabilizar-se pelo que fez? Quem determina a sua responsabilidade?
- Ninguém! Sei lá! Ele próprio.
- Isso. Ele próprio.
- E?
- Não vês? O mentiroso não é alguém que teme o resultado da opinião do outro, nem a condenação daí decorrente. O mentiroso já se julgou a si mesmo e condenou-se, percebes? O assunto já foi julgado. O mentiroso esconde-se do seu próprio juízo de valor, da sua própria condenação e da sua própria responsabilidade. Como te disse, o problema não é do outro, é da pessoa que mente.
Fiquei gelado. Estava certíssimo. Eu sabia porque o tinha constatado pelo lado de fora e pelo lado de dentro. Eu mentia sempre que me julgava e condenava a mim mesmo.
- Mas é verdade que me mente!
- Tão verdade como o que a minha mãe dizia do meu irmão Cacho: "Ele não me come nada." O meu irmão não LHE comia a carne, nem LHE comia a sopa, nem LHE provava o pudim flã "que é tão nutritivo"...
- Não, não é a mesma coisa. Quando alguém me mente, mente-ME a mim.
- Não, Damião. Aceito que penses que és o centro do teu mundo. De facto, és. Mas NÃO és o centro DO mundo. A pessoa mente. Não te mente a TI. Fá-lo porque decide fazê-lo, porque lhe convém ou porque lhe apetece. Esse é um privilégio DELA. Dizer que TE mente leva-te a criar um delírio auto-referencial em que algo que na realidade é um problema dela se transforma num problema TEU. Não te irrites!
- Mas é um problema dela?
- Mentir para fugir a uma responsabilidade é um sintoma. Quantas vezes concluímos juntos que, em última instância, a neurose não passa de uma maneira de as pessoas não serem adultas, de fugirem às responsabilidades inerentes ao crescimento?
- Não sei. Tenho de pensar. Na vida do dia-a-dia, o mentiroso sai a ganhar, não se irrita, não se cansa.
- Mesmo que isso fosse verdade, a justiça não tem nada a ver com a saúde. Além do mais, tudo depende do que entendes por sair a ganhar.
"Conseguir que as coisas sejam de determinada maneira por causa de uma mentira é difícil. Creio que, quanto muito, uma mentira pode conseguir que as coisas sucedam durante uns tempos de uma maneira mais conforme com os desejos da pessoa que mente (ainda que ela saiba interiormente que essa forma é falsa, fictícia, colada a cuspo, assente na sua mentira).
- Não mentimos por esse motivo, ou pelo menos não o fazemos deliberadamente. Acho que, seja como for, minto para tentar controlar uma situação.
- Isto é, para teres poder...
- Sim, de certo modo, poder. Sou eu quem sabe a verdade. Eu faço-te agir. Eu engano-te. Eu canso-te. Eu irrito-te... É um poder tramado, mas ainda assim é poder.”



Jorge Bucay

Livro: Deixa-me que te Conte